6 anos morando na Suécia.

Oi, Pessoas!
Ontem fez exatamente 6 anos que moro na Suécia!


Eu sei que vai parecer clichê, mas eu vou dizer mesmo assim, esses 6 anos morando na Suécia passaram voando. Muita coisa aconteceu. Muita coisa mudou na minha vida.

Exatamente no dia 02 de dezembro de 2013, chegava na Suécia uma Rafaela super apaixonada, cheia de sonhos, esperançosa, positiva e ao mesmo tempo com muito medo e insegura sobre o futuro. Nessa data eu vim em definitivo morar na Suécia, pois em outubro de 2012 eu vim pra cá somente como turista e passei três meses.

Acho que todo mundo no geral pensa que morar na Suécia é um paraíso, e eu vou falar para vocês, não é ruim mesmo não, só acha que é ruim/chato morar na Suécia, pessoas que não estudam ou não trabalham e que não querem de forma nenhuma se integrar a sociedade, mas ninguém pensa muito sobre a adaptação quando vem morar aqui, as pessoas só querem vir mesmo, não importa as dificuldades.

No início não foi fácil pra mim, passei 3 meses em casa, esperando pra entrar na escola de sueco e enquanto isso, ficava em casa estudando sueco pela internet e lia muitos blogs sobre a Suécia, mas poucos falavam sobre experiências de vida ou sobre sentimentos e por isso que eu resolvi começar com o meu próprio blog.

Me sentia muito sozinha, mesmo estando do lado do meu namorado. 
Então acredito que para quem vem morar completamente sozinho seja ainda mais difícil, e difícil vai ser também para quem tem problemas como depressão, solidão e para quem gostar de estar rodeado de pessoas o tempo todo e saindo o tempo todo também. O ritmo de vida aqui na Suécia é bem mais calmo, bem mais calmo mesmo (profissionalmente e socialmente) e não é todo mundo que se acostuma facilmente com toda essa calmaria.

Sentia falta da família, dos amigos, do meu trabalho, da minha antiga rotina, porque eu tinha uma, né? Cheguei em dezembro, um frio danado lá fora(pois um não se acostuma com o frio de uma vez, é um processo), uma escuridão sem fim, mas quando eu via a neve, ficava encantada, como fico até hoje e vou ficar por longos anos da minha vida aqui. Estranhei muito aqui ser um lugar muito tranquilo, por incrível que pareca, até do barulho eu sentia falta, pois uma coisa é você vir como turista e outra é você viver no lugar e saber que não vai voltar tão cedo pro seu país de origem. Mais sempre pensei positivo, sabendo que as coisas iriam melhorar, principalmente quando eu tivesse mais contato com outras pessoas. Sempre fiz esse exercício de ver sempre o lado positivo das coisas e foi de extrema importância pra mim, principalmente no começo. É um exercício que eu costumo fazer até hoje e recomendo, principalmente para pessoas muito negativas.

O início é bem deprimente e frustrante, não para todas as pessoas, lógico, mas para a grande maioria. Então tentem se preparar para isso, se é que tem como.

Sempre mantive contato com meus familiares e amigos no Brasil. Com minha mãe, sinto necessidade de falar todos os dias, mesmo que seja através de mensagens de áudio. Antes de vir para cá, mesmo como turista na época, muitas pessoas se aproximaram de mim, com certos interesses, sinceramente não entendi bem isso, mas depois de um tempo somente as amizades verdadeiras permaneceram. Com alguns amigos tenho contato frequente, mas com outros perdi o contato com o passar do tempo, a vida é corrida, mas sempre me marcam em publicações nas redes sociais, essa foi a forma que alguns encontraram para se manterem próximos. Sempre que estou em Recife, algumas dessas pessoas me procuram, o que é muito legal.
Do mesmo modo que algumas pessoas "se afastaram", outras novas amizades surgiram.

Eu depois que sai "debaixo da saia da minha mãe", tive que tomar minhas decisões sozinha. Não dava pra ficar ligando de meia em meia hora, perguntando a opinião dela, nem falava muito sobre as minhas dificuldades iniciais e frustrações pra ela, até porque ela ia pedir pra eu voltar correndo pra casa, pro colo dela, como toda mãe protetora e quanta falta eu senti desse colo, vocês não tem noção, mas desistir não era algo que fazia parte dos meus planos. Eu estava muito determinada em que as coisas dessem certo por aqui.
Quando você passa a viver sozinha ou dividir a vida com alguém, as responsabilidades aumentam e muitas prioridades mudam e você tem que decidir o que você quer ou não, e tudo bem não saber o que se quer no começo, tudo é tão novo, né? mas é muito importante saber o que não se quer de jeito nenhum.

Foi muito difícil pra mim deixar minha mãe e meu irmão no Brasil. Foi uma decisão difícil, tive que conversar diversas vezes com eles e tentar convencê-los, mas quando realmente tomei minha decisão, eles me apoiaram, principalmente minha mãe, que disse que se não desse certo a vida aqui, ela estaria no Brasil de braços abertos pra começar tudo novamente ao meu lado. É eu sei, minha mãe é muito fofa e a melhor mãe do mundo também. Ela disse naquela época que seu coração estava apertado, mas que preferia que eu viesse pra cá e tentasse, do que continuar no Brasil pensando como teria sido se eu tivesse ido morar na Suécia. Lembro disso com lágrimas nos olhos. Que Mãe, senhoras e senhores, que mãe! Minha inspiração todos os dias da vida.

Sei que o que estou contanto aqui são coisas muito íntimas, mas esses 6 anos morando aqui, é um momento de muita reflexão pra mim, espero que entendam. Está sendo uma construção muito louca. haha :)

Uma das coisas mais difíceis do início, foi ser dependente financeiramente do meu namorado. Eu comecei a trabalhar desde os 16 anos no Brasil, naqueles projetos de "menor aprendiz" e desde então, eu não parei mais de trabalhar e nada contra as donas de casa, mas eu definitivamente não nasci pra ser uma, então foi bem difícil essa primeira fase.

Ninguém também me explicou o quanto seria diferente/difícil viver com outra pessoa, foi totalmente novo pra mim e por mais que eu amasse meu namorado, alguns conflitos surgiram e foi preciso uma adaptação até dentro de casa. Pra essas coisas não se tem manual. Namoramos por muito tempo a distância, esperamos um longo tempo pelo visto separados, então só conhecíamos mais as coisas boas um do outro, depois fui conhecendo as manias chatas, os defeitos e fomos nos moldando aos poucos. Nessas horas é preciso muito amor, paciência e compreensão de ambas as partes. Por mais que a gente ache que conhece o nosso parceiro, a gente passa a realmente conhecer quando mora junto, depois de um tempo é necessário viver a vida real e não o mundo de sonhos, duendes e fadinhas.

Depois que entrei na escola, as coisas foram melhorando de um lado e piorando de outro. Foi bom porque eu via pessoas e tentava interagir com elas e estava conhecendo ambientes diferentes, ruim porque as vezes eu ficava muito frustrada em não aprender sueco rápido e por não entender nada. Nessas horas eu chorava de frustração e tristeza e também pensava em desistir de tudo, mas sempre tinha pessoas ao redor pedindo para eu ser mais paciente e no fim valeu muito a pena.

Depois que sai do SFI eu não falava sueco bem, eu tinha uma noção de como era a gramática sueca, sabia falar frases e entendia algumas coisas, princialmente as pessoas que falassem devagar. Como já escrevi aqui em vários posts, foi o meu estágio que me ajudou a realmente aprender a falar sueco, e depois que eu aprendi a língua, muitas portas se abriram, tanto profissionalmente, como para novas amizades. 

No começo eu facilitava muito para mim mesma e estudava as respostas mais curtas para as perguntas mais comuns, pois gracas a Deus, em sueco você pode responder a perguntas de maneira curta, sem parecer rude e pouco a pouco, fui aprendendo mais e mais, só de escutar os suecos falando entre eles. Outra sorte que eu tive também é que, a maioria dos suecos, gostam de ajudar aqueles interessados a falar sueco.

No primeiro ano na Suécia eu sabia o básico de sueco, falava pouco e entendia pouco, eu estudei 9 meses no SFI, com aulas 3 vezes na semana. No segundo ano eu comecei a estudar o SAS e depois segui com o Sva1, Sva2, Sva3, que equivale ao ensino médio sueco e nele aprendi mais e mais a me expressar melhor, escrever, através dos textos que tinha que entregar e das apresentações.
No terceiro ano aqui na Suécia foi quando eu me senti mais segura para falar sueco e conseguia entender muito. Antes disso, eu me sentia nervosa ao falar, ficava formulando as respostas na cabeça, antes mesmo da pergunta terminar. No terceiro ano isso mudou e foi ficando cada vez mais natural e no 6 ano morando na Suécia, posso dizer que falo sueco e que entendo muita coisa, mas que ainda continuo aprendendo todos os dias e assim vai ser por muito tempo. Agora é ampliar cada vez mais o vocabulário e tentar pronunciar as palavras da melhor maneira possível, tipo um aperfeiçoamento, sabe? Não me sinto fluente na língua ainda, acredito que ainda tenho muito que aprender, estou só no começo da jornada, mas foi muito mais difícil no início de tudo, sem dúvida nenhuma.

Como pessoa, eu mudei muito, comecei a ver o mundo de forma diferente depois de um tempo. Minha mente abriu muito, em muitos aspectos, para muitos preconceitos que eu tinha, sobre coisas que nos são impostas no Brasil, para nós mulheres principalmente. Aprendi aqui a ser cada vez mais independente e a testar coisas diferentes. Trabalhar com várias coisas que jamais imaginei, provou muito pra mim mesma que sou capaz de muito mais do que pensei.

No início comecei a observar bastante como as pessoas se comportavam aqui, pra não pagar tanto mico e uma coisa que tive que me policiar foi com tom da minha voz. Eu falava mais alto, como a maioria dos brasileiros. Na minha casa eu posso falar o quão alto eu quiser, mas em lugares públicos, lugares que eu convivo com outras pessoas, é educado eu falar mais baixo, além de educação é também uma questão de respeito para com outras pessoas.
Aprendi aqui a respeitar mais a individualidade das pessoas e o espaço delas, muito mais do que no Brasil.

Sinto que minha auto estima também mudou bastante, aumentou, pois aqui eu sou mais livre pra ser quem eu quero ser,  gorda, magra, despenteada, sem maquiagem, usar a roupa que eu quiser, sem pensar muito no que os outros vão achar, pois eles estão muito ocupados vivendo a vida deles.
Foi uma das melhores sensações do mundo, me libertar de padrões que me eram impostos no Brasil. Hoje eu gosto muito mais de mim.

Eu me superei muito como pessoa morando na Suécia, pois jamais imaginei que seria capaz de falar outro idioma e ainda mais esse idioma sendo o sueco.
Sempre pensei que os "gringos" eram seres superiores e hoje eu sei que não, é todo mundo igual, muda um modo de pensar aqui e ali, tradições aqui e ali, mas no fim somos todos seres humanos mortais e pensamos as mesmas coisas, desejamos as mesmas coisas, nos preocupamos com as mesmas coisas, no geral. Hoje vejo melhor o quanto, nós brasileiros, temos mais facilidade de socialização, improvisação, flexibilidade e empatia.

Aprendi muito sobre respeito ao meio ambiente, bem como a reciclar o meu lixo e ter mais consciência sobre os cuidados com a natureza. Tenho aprendido muito também sobre amizades e relações com as pessoas.

Quando fui ao Brasil, depois de dois anos vivendo na Suécia, ficou muito claro na minha cabeça, que minha casa de verdade tinha se tornado a Suécia e foi muito triste pra mim reconhecer isso, me sentia de certa forma uma "antipatriota", mas depois de muito pensar, comecei a entender que tava tudo bem sentir que o meu novo lar era na Suécia, mesmo diante de tão pouco tempo, e que isso não me tornava menos brasileira, gostar do país em que estou morando.

O Brasil sempre vai ser o país em que nasci e de onde vem as minhas origens das quais sinto imenso orgulho. Sempre vou ser brasileira, isso jamais poderá ser tirado de mim e jamais serei sueca, mesmo que eu tente incorporar a cultura deles. Nunca falei alto sobre esse assunto, pois a primeira coisa que acontece é o julgamento, mas eu tô aqui pra dizer que está tudo bem você amar o país em que vive. Demorou mais ou menos 6 anos para eu me dar conta dessas coisas e me sentir bem com isso. Nós passamos por vários turbilhões de emoções e reflexões morando fora, buscando sempre entender melhor nossa identidade.

Eu nunca pensei que um dia faria uma viagem internacional na vida, muito menos morar fora, mesmo eu tendo me graduado em turismo no Brasil. Para mim, qualquer coisa relacionada ao exterior era algo muito distante da minha realidade e simplesmente aconteceu de eu encontrar uma pessoa maravilhosa, que me mostrou um mundo completamente diferente de tudo que eu tinha visto ou vivido. Quando lembro da nossa história, penso no quão imprevisível ela foi.

Agradeço muito ao meu marido por ter tido tanta paciência comigo, principalmente no início de tudo, todo o apoio dele foi fundamental para o meu amadurecimento e crescimento como pessoa.

Aprendi muitas coisas que infelizmente, não vou poder escrever cada pequeno detalhe em um post, mas gostaria que vocês soubessem que, ter mudado para a Suécia me fez uma pessoa melhor, me trouxe uma qualidade de vida que jamais imaginei que realmente existisse e oportunidades que eu jamais pensei que teria acesso um dia. 

Me mudar para cá, foi realmente um divisor de águas na minha vida, foi muito transformador e eu faria tudo outra vez e passaria por todos os perrengues novamente, pois valeu muito a pena. Não é para qualquer pessoa a vida no exterior, deixar de lado tudo que você conhece e se abrir para descobrir e fazer parte do novo, pode ser assustador. Tem que ter coragem para não desistir no primeiro obstáculo que surgir. Tem que ter um objetivo de vida claro.

Me sinto muito feliz vivendo na Suécia e que assim seja por muitos e muitos anos. Sinto hoje, que a Suécia é o meu lar, sem nenhuma noia na cabeça e nem me sentindo menos brasileira por isso.
Sinto que ainda tenho muito para conquistar aqui nas terras nórdicas.

Viva os meus 6 anos de Suécia!



Até a próxima, Pessoas!





Comentários

  1. Muitos parabéns Rafaela!
    O tempo passa tão rápido quando andamos a lutar para "encontrar um lugar" num país novo, a aprender a língua, a conhecer pessoas novas. Lembro-me de sentir e pensar coisas muito semelhantes quando cheguei cá, sentia falta de barulho, de movimento! Mas, como você escreveu, é muito importante manter e cultivar o pensamento positivo e também a gratidão por tudo, pelas coisas grandes e as pequenas também!
    Gostei muito de ler o seu relato. Que os próximos 6 anos sejam maravilhosos!
    Beijos

    ---

    Aproveito para avisar que o blog tem novo endereço URL:
    http://abonecadeneve.blogspot.com

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    1. Obrigada, Joana! :)
      Beijos para você também.
      Um feliz 2020!!!

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